quarta-feira, 7 de outubro de 2015

QUARTA CAMADA – DESTROÇOS PELO CAMINHO

- 20 -

Após conseguirmos fugir dos guardas, apesar de que tínhamos pouco tempo até que eles nos alcançassem, estávamos caminhando a beira mar, numa noite fria e enquanto andava eu notava a mudança que sofrera a cidade de Vitória.

O antigo porto estava desativado, apenas alguns botes navegavam solitários pela noite com suas luzes fracas. A avenida beira mar vazia pelo medo e gelada pelo frio. Ao passarmos pela curva do Saldanha me deparei com metade do antigo Forte São João, lá de dentro ouvia vozes chamando para entrar e aproveitar que estava quente, lógico, passamos direto.

- Onde sua amiga estará nos esperando? O que exatamente estamos fazendo agora K32?
- Veja (apontou para o antigo centro de vitória) temos de atravessar ele sem sermos notados e encontrarmos com eles na velha ponte…
- A ponte de ferro?
- Hum? Estou me referindo à antiga segunda ponte… A seção 37 está isolada da 14 a menos de cinco anos, portanto não temos exatamente uma ponte para cruzar, esta ponte que se referiu eu não conheço, fui criado após a queda dela… provavelmente…
Enquanto minha mente tentava compreender o que ele havia dito até aquele momento algumas perguntas brotaram dentro da minha cabeça. – Quando você diz que foi criado… como exatamente isso aconteceu?
- Fui criado em um laboratório ali embaixo… apontou para uma abertura abaixo do piso do porto em Vila Velha… um antigo experimento que os cientistas trabalhavam há anos em busca da resposta. O bom, meu amigo Scott… não tenho identidade… não tenho família, nem um lugar pra ficar… sou feito de metal, com um cérebro fabricado em laboratório (sorriu). Fomos criados para uma missão em especial, muito importante para a época em que aconteceu, talvez não muito para nossa época…
- E você ainda persegue esta missão até hoje? A de procurar crianças por aí? Sabia que por algum motivo havia sentimentos nas palavras dele, não sabia até onde isso refletia uma programação, mas estava apostando que aquele robô por algum motivo havia se tornado mais humano que muitas pessoas que você possa conhecer.
- Nossa missão principal era procurar crianças desaparecidas, em 2015, ano em que fui concluído, o índice de desaparecimento alcançou um grau tão grande que fomos postos para procura-las usando o poder de nossos cinco computadores quânticos, pesquisamos em banco de dados de todos os níveis da deepweb, fomos a locais onde pouquíssimas pessoas haviam chegado e encontramos muitas pessoas trabalhando como escravas de homens poderosos. Até que, por algum motivo, nossos companheiros começaram a desaparecer nas missões. Naquela época não tínhamos a tecnologia quântica aplicada às regras da gravidade, portanto quando alguém desaparecia, nós simplesmente perdíamos o contato com ela imediatamente…
- O que você quer dizer com quântico e gravidade?
- Simplesmente o fato de termos descoberto uma função extra da gravidade. Usamos nosso computador para quebrar a regra e descobrirmos o que tem atrás das cortinas do mundo real, se a gravidade é a força que mantém tudo em seu lugar, o que acontece quando quebramos ela em locais isolados? Descobrimos que isso não se aplica apenas a força exercida na Terra, ela se aplica a diversas camadas da realidade… e então lá estávamos nós, observando um mundo diferente, a qual chamamos de mundo espiritual. Você consegue atravessar estas camadas por ter sido convocado por Deus, nós usamos a tecnologia para fazer isso, com algumas limitações e vantagens.
- Desisto… não consigo entender nada do que acabou de me dizer…

- Vou te dar um exemplo simples e natural para entender. Tudo que acontece aqui na Terra fica gravado nela mesma, vemos isso nas mudanças, nos relatos e etc. porém vemos isto numa força maior ainda, a qual ainda não foi denominada, mas fato é que em alguns locais da Terra a força gravitacional varia tanto que podemos ver como que falhas no tempo, alguns chamam de fantasmas, outros veem pessoas andando onde não tinham, mas são falhas na força que une o passado, presente e futuro. Quando esta onda de choque passa alguns locais perdem a força e acabam voltando por segundos no tempo. O que descobrimos após isto?! Não apenas nós os vemos, mas eles também nos veem por isso nos encaram (risos) como se fossemos fantasmas para eles também.

Na escola onde dava aulas de matemática cheguei a ouvir um físico discursando sobre uma máquina, acho que se chamava cronovisor, nunca, nunca imaginei que fosse verdade e de fato, ninguém acreditou que aquela história pudesse ser verdadeira, hoje começo a duvidar dos meus próprios conceitos, mas ainda assim não havia visto provas concretas de que esse aparelho realmente funcionou ou que de fato havia um defeito nas forças da Terra que mostrava o passado ou o futuro.

- Tenho a impressão de que isso coloca de alguma forma tudo que vi e passei em cheque, afinal, não seria tudo isso uma visão de coisas passadas? O mundo espiritual realmente existe? Ou é apenas uma ilusão criada pela falha do sistema chamado terra? Ele me parou segurando pelo braço e calmamente olhou para mim…
- O mundo espiritual é a única coisa que podemos ter certeza de existir, ele não tem estrutura, não muda de acordo com a vibração gravitacional e estas leis nem sequer passam por ele…
- Como pretende cumprir sua missão? Mudei de assunto…
- Estas crianças não desapareciam de suas cidades… elas desapareciam do tempo… minha teoria, baseada no amplo arquivo de pesquisa é de que as pessoas no futuro conseguiram de alguma forma abrir estas brechas nas camadas e as levam. Por algum motivo o futura não me parece ter muitas crianças, são sempre elas e as pessoas religiosas quem somem, mas isso eu não posso te contar agora. Disse apontando para a subida da antiga segunda ponte e era apenas o que podíamos ver naquele escuro já que ela se estendia apenas até a metade do caminho, a outra parte estava destruída. Tapei a boca com o medo que senti ao me imaginar atravessando aquelas vigas que ainda ultrapassavam de uma cidade a outra.

- Passamos por cima ou por baixo, você escolhe…
- Vamos por baixo mesmo…


Enquanto K32 descia eu corri rapidamente até a subida da ponte, caminhei pelo menos cem metros até chegar ao final da ponte, havia sido destruída não arrancada e apesar dos destroços pessoas caminhavam por ela como que se tivessem acostumadas com aquilo, algumas até mesmo atravessavam pela viga que interligava um ponto ao outro, sem segurança alguma. Quando fui preso na clínica do doutor Júlio o cenário não era aquele e de alguma forma estávamos no ano de 2023… como se eu tivesse dormido e acordado anos depois de um pesadelo ao outro.

Nenhum comentário:

Postar um comentário