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Creio que o que se passou após aquele terrível
encontro não foi nada perto das coisas que me esperavam mais a frente… eu
pediria para que você faça mentalmente uma lista com os nomes das pessoas que
você mais confia… talvez tenha muitas pessoas, talvez nem tanto… agora… retire
da sua lista 99% e me diga quem ficou? Aquele momento não apenas partiu meu
coração, ele perfurou toda a minha alma e me deixou desnorteado ao notar como
as pessoas não enxergam a verdade e se enveredam nos seus próprios infernos. A pessoa
em quem eu mais confiava em toda a minha vida, seria como um veneno para mim…
ela tentaria me destruir simplesmente porque eu sabia demais…
Desci do ônibus num ponto escuro do bairro, o abrigo estava
aos pedaços e a mesma luz amarela cambaleante me seguia mesmo após tanto tempo
longe de casa… o vento estava quente e úmido mesmo aquela altura da noite,
quase madrugada. Não observei muito as mudanças do bairro, mas pude notar algumas
crianças sujas e quase sem roupas brincando na praça principal do bairro enquanto
alguns bares novos contaminavam as velhas casas. Parei na subida do morro que
sempre subia, olhei por um instante tentando lembrar como era aquele lugar anos
atrás. Cocei a barba várias vezes sentindo um arrepio subir pela espinha
terminando nas orelhas, não estava preparado para aquele encontro, mas tinha de
acontecer, minha mãe talvez estivesse acordada e quem sabe ficaria feliz em me
ver novamente… após tomar coragem fui até o fim, parei em frente ao seu portão
e chamei, não demorou muito para aparecer olhando da grade do segundo andar.
- Oh… oh… não pode ser! Exclamou antes de sair correndo em
direção ao portão para que eu entrasse.
- Oi… mãe, estou de volta…
- Como ficamos preocupados, Scott, onde você esteve todos estes anos? Colocamos muitas pessoas atrás de você, mas não conseguiram por anos… achei que você estava…
- Oi… mãe, estou de volta…
- Como ficamos preocupados, Scott, onde você esteve todos estes anos? Colocamos muitas pessoas atrás de você, mas não conseguiram por anos… achei que você estava…
Consegui ver as lágrimas correrem dos seus olhos, mas minha
mãe sempre foi muito forte, mesmo numa situação como aquela ela seguraria até o
fim. Entramos e contei tudo, resumidamente, para ela a fim de que ela pudesse
entender onde estive envolvido. Após ter ouvido tudo com uma atenção que eu não
conhecia ela foi em direção ao quarto enquanto eu observava alguns quadros
novos pendurados na parede.
- Como a senhora tem passado, mãe? Perguntei em alta voz.
- Scott… tenho passado bem, não entendo uma coisa meu filho… você estudou tanto, aprendeu tanto e no final acabou sendo enganado quase do mesmo jeito que eu fui anos atrás.
- Não entendi direito mãe, o que a senhora quer dizer com isso? Questionei olhando para a porta…
- Toda essa idiotice de religião, deus e essas baboseiras que nos dizem pra tentar nos convencer. Por muito tempo eu fui mesma, admito, enganada. Mas hoje não me vejo perdendo tempo com essas coisas ultrapassadas, vivemos uma nova era, não cabe mais isso em nosso mundo… Aquele frio na espinha, novamente…
- Sabe o que a tropa vermelha faz com pessoas de pensamento tão atrasado como você? Peço que refaça seus pensamentos sobre esse tal deus que nunca vem, nunca voltou e tenho por mim que nunca existiu…
- Scott… tenho passado bem, não entendo uma coisa meu filho… você estudou tanto, aprendeu tanto e no final acabou sendo enganado quase do mesmo jeito que eu fui anos atrás.
- Não entendi direito mãe, o que a senhora quer dizer com isso? Questionei olhando para a porta…
- Toda essa idiotice de religião, deus e essas baboseiras que nos dizem pra tentar nos convencer. Por muito tempo eu fui mesma, admito, enganada. Mas hoje não me vejo perdendo tempo com essas coisas ultrapassadas, vivemos uma nova era, não cabe mais isso em nosso mundo… Aquele frio na espinha, novamente…
- Sabe o que a tropa vermelha faz com pessoas de pensamento tão atrasado como você? Peço que refaça seus pensamentos sobre esse tal deus que nunca vem, nunca voltou e tenho por mim que nunca existiu…
Caí sentado no sofá esverdeado da sala, senti como que meu
coração se partindo… minha mãe que antes me forçava a frequentar os cultos,
dizia orar por mim e coisas desse tipo, agora me dizendo que isso tudo era uma
grande mentira, precisava entrar na quarta camada e ver o que estava
acontecendo e a reposta foi como uma espada cortando minha alma, minha mãe
estava sozinha e sóbria. Ela dizia realmente o que pensava sem nenhuma
interferência maligna.
Comecei a sentir minhas próprias lágrimas quando notei que
ela tinha dado um passo atrás… segurava um objeto com um botão e pressionava
com tanta força que fiquei com medo de jogar em mim, tentava entender o que
estava acontecendo naquele momento. Não tive um minuto sequer para isso…
- Você é uma praga pra nossa família, antes tivesse morrido.
Uma desgraça para essa casa, não precisamos de você aqui Scott!
Me levantei e agarrei o rosto dela por um momento enquanto
ela tentava me afastar de si, estava tão desorientado que sem perceber entrei
levando ela na quarta camada e por uma questão de segundos viu muito mais do
que havia visto em toda vida, seus olhos estavam abertos de terror com a visão
daquilo que realmente representava a realidade. Finalmente, quando conseguiu me
empurrar em direção à porta pude ver que em seus olhos alguma coisa mudara, ela
poderia voltar atrás, mas aquele não seria o momento ideal para isso.
Após isso, eu não pude ver de onde saiu, de onde veio. Um
helicóptero sobrevoava a rua. Havia soldados por todo o bairro e eles estavam
procurando a mim graças a uma chamada de emergência, emitido pela minha mãe que,
enquanto saía correndo em direção ao portão gritou para que os soldados
pudessem ir atrás de mim. Eu já cruzava a esquina.
Estavam aproximadamente a quinze metros de mim quando notei
que foram alertados, corri por baixo de marquises para que o helicóptero não me
encontrasse até que não consegui evitar e fiquei a vista dele, dos soldados e de
moradores que nesse momento começavam a vir atrás de mim. Pulei uma cerca e cai
de joelhos no barro molhado de um quintal abandonado. Havia uma casa ainda em
construção onde pude me esconder até que alguns homens passaram por mim e pude
novamente sair. Enquanto estava escondido, ainda com muito medo, pude notar que
na rua muitas mulheres lamentavam sobre alguma coisa, algo como a presença da
tropa vermelha no bairro. Corri até o muro do quintal e após dois quintais
parei encostado no muro para tomar um pouco de ar, tempo que foi abreviado
quando dois cachorros entregaram minha posição, consegui me esconder.
Estava num quintal abandonado na parte baixa do bairro,
próximo à praça onde crianças sujas brincavam, saltei usando os módulos
emprestados por K32 e me abaixei num local escondido para que pudesse observar
com mais cuidado o local. Como que num segundo, ouvi uma grande explosão em um
dos carros parados a minha esquerda. Olhei e em cima do carro descansava quase
que imponente um ciborgue, como K32. Porém este maior e havia cabos soltos pelo
capacete soltando faíscas como se acabassem de arrancar da sua fonte de
energia. Caminhei em sua direção quase que por impulso, já não havia mesmo para
onde ir, estava praticamente tudo perdido. Sentia o calor do carro em chamas
quando ele começou a se mexer. Da parte de trás de um velho prédio pude ouvir
um som seco e metálico correndo em nossa direção, me escondi na lateral do muro
para que não fosse pego de surpresa, foi então que os passos diminuíram, estavam
agora caminhando pelo corredor entre um prédio e outro. Olhei curioso para
saber o que estava acontecendo e fiquei chocado quando percebi que era uma
criança, ou um ciborgue. Já não tinha mais noção de muita coisa que estava
acontecendo ali. Ela ajeitava alguns cabos aparentemente interligados em sua
cabeça, parou na direção do ciborgue.
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